Como temos construído a vida junto com os outros como legítimos outros? De que modo as práticas de cuidado têm se ofertado ao encontro com a radical diferença? Essas questões movem o presente trabalho, que se ocupa com a problematização dos efeitos de posturas de fechamento e distanciamento em relação ao diferente e à diferença nos modos de vida no contemporâneo, bem como, insiste em exercícios de resistência ao pensar e cultivar práticas de cuidado em redes de conversação e cogestão. Em uma visada cartográfica e interventiva, analisa-se como motor e efeito principal das dificuldades e enrijecimentos que saltam em nossas relações conosco, com os outros e com o mundo, um processo que aqui divisamos como do emparedamento de uma vida, o qual se atualiza em atitudes normalizadoras, infantilizadoras, culpabilizadoras e de intolerância, bem como em endurecimentos identitários. A partir dessa análise, aliada à Estratégia da Gestão Autônoma da Medicação (GAM) e suas direções norteadoras de cogestão e autonomia, essa pesquisa, construída com um grupo de familiares e/ou outros responsáveis de crianças e adolescentes que frequentam o Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil de Vitória/ES (CAPSi/ES), investiu em processos de cogestão e participação, que neste trabalho, afirmam-se na constituição e fortalecimento de redes de conversação. O exercício da conversa como um êthos nos dias atuais se abre a uma atenção singular e ao acolhimento e cultivo das margens estrangeiras e disruptivas, que, no enfrentamento ao apequenamento e amesquinhamento do viver, possibilita, por entre as rachaduras dos muros, gerar a existência em processos singularizantes.
Palavras-chave: conversa; cogestão; Gestão Autônoma da Medicação (GAM); Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil (CAPSi); diferença.