ptenfrjaes

A presente tese propõe articular a experiência psicodélica ao cuidado de usuários de psicotrópicos prescritos em saúde mental. Para tanto, apresentamos a Gestão Autônoma da Medicação (GAM), uma abordagem de intervenção em saúde mental pautada na valorização da experiência dos usuários de psicotrópicos. O problema da presente pesquisa emerge como fora-eixo da GAM, dando relevo à análise de implicações, procedimento metodológico para extrair o excesso de pessoalidade na redação do fora-texto da pesquisa, ou seja, o material usualmente excluído das publicações científicas oficiais. Para auxiliar na redação desse foratexto, algumas ferramentas são introduzidas como recursos estilísticos consistentes com o material trabalhado, tal como o discurso indireto livre, de Mikhail Bakhtin, e os ritmos acelerados, saltos, cortes e dobraduras do tempo, herdados dos artistas beat, sobretudo como utilizados nas rotinas – invenção literária de William Burroughs. A tese faz uma apresentação da experiência psicodélica, desde a primeira síntese do LSD-25, em 1938, passando por pesquisas científicas, militares, clínicas, místicas, artísticas e político-culturais, com especial atenção ao acid rock, ou rock psicodélico, e às considerações de Timothy Leary, Ralph Metzner e Richard Alpert no que diz respeito tanto à influência das disposições pessoais (set) e ambientais (setting) quanto à distinção, na experiência psicodélica, de três fases (ou bardos), baseadas no Livro Tibetano dos Mortos, que entendemos como uma primeira fase de transcendência completa, prerreflexiva, sem qualquer distinção entre dentro e fora (para além do espaço-tempo, da linguagem e de si); uma segunda, de controle egoico, que envolve tentativas alucinantes e delirantes de demarcação de limites identitários; por fim, um período de retorno ao jogo da realidade rotineiro, das distinções entre dentro e fora, mas com limites mais alongados, flexíveis e expandidos. Em seguida, apresentamos o fora-eixo da pesquisa de campo realizada em um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), entre março e novembro de 2011. Na pesquisa de campo, experimentamos a ação de três vetores, produzindo distintos movimentos de subjetivação: um vetor de exclusão, produtor de fechamento; um de inclusão, produtor de abertura; e um vetor de repulsão, produzindo paranoia, que serviu-nos para ressaltar o caráter desafiante que envolve a inclusão do fora. Com isso, cumprimos nosso objetivo, na expectativa de que a partilha de uma sensibilidade psicodélica auxilie na formação estético-política de trabalhadores do campo da saúde mental.

Palavras-chave: Saúde mental. Experiência psicodélica. Drogas lícitas e ilícitas

 https://app.uff.br/slab/uploads/2014_t_Sandro.pdf