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O movimento de reforma psiquiátrica brasileira propõe a produção de novas práticas e contextos de intervenções\cuidados em saúde mental fundamentada no cuidado em liberdade e que procuram se instituir na contramão da lógica medicalizantes hegemônica, que tem produzido uma epidemia de diagnósticos de transtornos mentais, fruto do fenômeno da medicalização da vida. Uma das expressões desse fenômeno são as altas taxas de prescrição de psicofármacos e o uso pouco crítico desses medicamentos em serviços de saúde. Por isso, se faz urgente no contexto de articulação da atenção psicossocial com a atenção primária à saúde nas Redes de Atenção Psicossocial, propor elementos alinhados a perspectivas não medicalizantes e que buscam um modelo de intervenção que privilegia a atenção integral e territorializada em saúde mental. Na Estratégia de Saúde da Família, temos o lócus privilegiado para produção de novas tecnologias de cuidado, que favoreçam a desmedicalização, o empoderamento e a produção de autonomia dos sujeitos em sofrimento psíquico e com transtornos mentais. Dentre essas tecnologias, podemos considerar que a Gestão Autônoma da Medicação (GAM) se constitui como estratégia grupal com potencial de cuidado emancipador, constituindo ferramenta concreta para enfrentar a problemática da medicalização da vida. Assim, objetivamos investigar os limites e potencialidades da GAM como estratégia de cuidado e enfrentamento a medicalização no contexto da Estratégia Saúde da Família em um município do interior do Rio Grande do Norte-RN. Trata-se de pesquisa com abordagem qualitativa, que se desenvolveu em torno de uma intervenção realizada no contexto da APS, tendo como suposto a capacidade de interferir na realidade estudada e de modificá-la, analisando seus efeitos para os participantes. Os instrumentos utilizados foram: A realização de um grupo intervenção GAM ao logo de oito messes, participação observante, e a construção de narrativas a partir da experiência com o grupo. Além disso, foram utilizados diários de campo e gravação em áudio para registro da experiência. O grupo GAM foi constituído por usuários da ESF e que fazem uso de psicofármacos, além de membros da equipe NASF-AB local. Para constituição do corpus de análise foram utilizados os registros de transcrição de áudio dos encontros, os diários de campo do pesquisador e narrativas coletivas validadas. Os resultados evidenciam que o processo de medicamentalização perpassa as práticas dos profissionais e se configura como principal oferta de cuidado, as demandas de sofrimento psíquico\ ético-político das usuárias mulheres na ESF, que utilizam psicofármacos como silenciadores de suas angústias associadas a condição feminina, e ao ser mulher em suas realidades concretas devida. A experiência com a GAM se mostrou como potencializadora de ações desmedicalizantes, apontando caminhos para a incorporação de novas relações e dinâmicas sociais no território. Mostrou-se como uma metodologia participativa e reflexiva com capacidade de disparar autoconhecimento, autonomia, e potência de ação para todos os sujeitos. Seu uso promoveu a ampliação do diálogo, a troca de experiências e vivencias com o uso de medicação, construindo experiências significativas nas diferentes dimensões de vida das pessoas: social, familiar e individual. A GAM mostrou-se ainda potente para instituir espaços de promoção da saúde na ESF, tendo em vista que o guia GAM se constituiu desta forma como uma ferramenta facilitadora de grupalidades nesse contexto. Concluímos que a GAM tem potencial estratégico para o enfrentamento da medicalização da vida na ESF, bem como uma ferramenta de atenção e cuidado para produção de saúde mental na APS.

Palavras Chave: Estratégia Saúde da Familia; Saúde Mental; Medicalização; Psicotrópicos; Práticas Grupais.

Microsoft Word - dissertação novembro (ufrn.br)