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A tese é resultado de uma pesquisa-intervenção junto ao grupo da Gestão Autônoma da Medicação (GAM) em um CAPS-AD da cidade de São Paulo, ao longo de quase três anos. O objetivo foi analisar os efeitos de autonomia produzidos nos encontros do grupos GAM, a partir da experiência da cogestão do cuidado entre profissionais e participantes, por meio da conversação sobre dimensões heterogêneas das vidas dos participantes imbricadas na relação - também múltipla - com o consumo de drogas. Para tanto, realizamos revisão integrativa acerca da produção acadêmica sobre a GAM com o intuito de apresentar o debate conceitual em torno da autonomia, adensando-o por meio da reticulação bibliográfica dos artigos que possibilitou traçar as diferentes vozes que dão sustentabilidade teórica a essa noção, bem como mapear as linhas de análise das quais nos valemos para dialogar com a pesquisa. Ao tomarmos a GAM como um dispositivo que “faz ver e faz falar”, construímos três cenas-enunciativas que demarcam tensões e deslocamentos entre relações de heteronomia e efeitos de autonomia, como: medicamentalização dos consumidores de drogas na rede de saúde com efeitos iatrogênicos e necropolíticos na vida dessas pessoas; lógicas e práticas de patologização sustentadas no racismo estrutural brasileiro; omissão sobre uso de drogas para garantir melhor atendimento nos serviços de saúde e da rede intersetorial, sinalizando lógicas meritocráticas do cuidado na rede assistencial. Entre os deslocamentos analisados, estão: ações de cuidado singularizadas e aportadas na inseparabilidade entre as drogas prescritas e proscritas, desestabilizando discursos de verdade e valorizando lógicas de cuidado de si; práticas de autonomia que se produzem pelo dissenso e pela afirmação dos diferentes modos de vida na produção de um mundo “em-comum”, “sem estrangeiros”, com as drogas. No campo AD, a GAM mostrou-se não apenas um dispositivo grupal que pode acionar deslocamentos nas relações de heteronomia em direção às práticas de autonomia, mas fez ver e falar modos de produzir relações não contrafissuradas com as drogas, afirmando composições entre drogas e autonomia.

Palavras-chave: Drogas; Autonomia; Gestão Autônoma da Medicação; Saúde Mental; Pesquisa-Intervenção.

DROGAS E AUTONOMIA EM TEMPOS DE CONTRAFISSUR (cdn-website.com)