Introdução: o trabalho do farmacêutico na Atenção Básica, tradicionalmente, esteve voltado mais para as questões logísticas e de suprimento das farmácias das Unidades de Saúde do que propriamente às necessidades do usuário no que diz respeito ao uso de seus medicamentos. Essa lacuna aos poucos foi sendo percebida, não só pelo profissional farmacêutico, mas por outros profissionais das equipes de saúde, à medida que surgiam relatos de usuários com grande dificuldade de manejo e compreensão de seu tratamento medicamentoso. Havia uma demanda e um espaço que o profissional farmacêutico poderia ocupar. A aproximação deste profissional `as equipes da Atenção Básica, enquanto responsável pelo cuidado compartilhado desses usuários, foi facilitada nos Núcleos de Apoio a Saúde da Família. Sendo assim, as ações de Assistência Farmacêutica ampliaram- se para aquelas referentes à Atenção Farmacêutica, considerada como um modelo de prática nesta área e que está atenta a atitudes, valores éticos, comportamentos, habilidades, compromissos e corresponsabilidades na prevenção de doenças, promoção e recuperação da saúde, de forma integrada às equipes de saúde. Isto exige uma interação direta com o usuário por meio da escuta qualificada, objetivando ganho de autonomia destes principalmente em relação ao uso da medicação. A prática grupal, além de poder ser espaço de escuta, pode oferecer oportunidades para troca de idéias e experiências nesta direção. Objetivos: acompanhar uma prática grupal que utiliza a estratégia GAM - Gestão Autônoma da Medicação, em uma Unidade Saúde da Família do Município de Santos, com usuários que têm doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), observando seus efeitos na gestão de medicamentos. Identificar barreiras e facilitadores no uso de medicação, os significados do medicamento para estes usuários e os efeitos do grupo na autonomia e protagonismo dos mesmos. Método: estudo qualitativo utilizando-se a pesquisa intervenção com um grupo de usuários com doenças crônicas e que fazem uso de polimedicamentos, tendo como referência o Guia Brasileiro da Gestão Autônoma da Medicação (GUIA GAM-BR), que consiste em um conjunto de passos que propõem ao usuário questões e informações para ajudá-lo a repensar suas relações com o uso de medicamentos. A GAM-Gestão Autônoma de Medicação, inicialmente criada no Canadá, com usuários dos serviços de Saúde Mental, e posteriormente adaptada ao contexto brasileiro, propõe uma prática cogestiva do tratamento entre equipes, usuários, família e comunidade. Resultados e Discussão: verificou-se a importância da garantia de espaços de discussão e aprendizagem entre usuários com doenças crônicas e trabalhadores, possibilitando um maior entendimento do tratamento medicamentoso, o que contribui para a efetivação da Atenção Farmacêutica, gerando maior possibilidade de negociação e, consequentemente, de autonomia para o usuário. As temáticas GAM figuram como importantes disparadores dessas reflexões. A “sacola” de medicamentos aponta para o medicamento como mercadoria e incentivo ao consumo, assinalando uma crítica ao modo como vem sendo dispensados os medicamentos, provocando, em muitos casos, a não adesão ao tratamento. Como barreiras encontradas, surgiram a dificuldade de formação dos grupos e a presença de um número maior de profissionais das equipes para ampliação da cogestão. Como sugestão para novos estudos, a temática da medicalização pode ser mais discutida nas equipes como forma de superação do modelo assistencial, até aqui instituído, especialmente no que se refere ao uso de medicamentos.
Palavras-chave: Assistência farmacêutica, atenção farmacêutica, gestão autônoma da medicação, atenção básica, grupo.