A medicalização consiste no processo por meio do qual a medicina invade as áreas da vida individual, quando um problema é criado ou anexado pelo aparelho da medicina. A partir de 1857 surgiram algumas estratégias de intervenção com o intuito de gerir as populações. Uma das estratégias encontradas para regular os sujeitos, foi por meio do uso de medicamentos, o qual vem de uma longa trajetória nas sociedades. O presente estudo tem como objetivo geral problematizar a relação entre a medicalização e a governamentalidade de usuários de um Centro de Atenção Psicossocial participantes de um grupo de Gestão Autônoma da Medicação, bem como analisar a relação estabelecida entre os usuários e as medicações; analisar as relações de poder que se estabelecem em torno do uso da medicação e discutir os movimentos de resistências e contracondutas expressadas durante a participação em um grupo de Gestão Autônoma da Medicação. Esta pesquisa é parte de um projeto maior, de pesquisa e extensão, vinculado à Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas – UFPel, intitulado: Gestão Autônoma da Medicação (GAM): produção dos saberes, práticas e sujeitos, o qual foi aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa sob o nº 2.792.514, A presente pesquisa caracteriza-se por uma abordagem qualitativa que foi realizada a partir da coleta de dados em um Grupo de Gestão Autônoma da Medicação, o qual ocorreu de 26 de setembro de 2018 à 22 de agosto de 2019 por meio de encontros quinzenais, de aproximadamente 1 hora de duração. Os dados foram coletados durante 15 horas de observação simples, as quais foram descritas em diário e notas de campo e analisadas a partir do olhar genealógico inspirado nos escritos de Michel Foucault. Sendo assim as ferramentas utilizadas para a análise do corpus discursivo foram os eixos: biopolítica, governamentalidade, resistências e contracondutas. As categorias de análise foram divididas em dois capítulos, no primeiro atentamos para a relação dos usuários do serviço de saúde mental com o medicamento psiquiátrico, em que se constata uma relação de dependência e prisão ao psicofármaco. Na segunda categoria de análise nos detivemos em discutir a respeito das relações de poder que se produzem ao redor do uso das medicações psiquiátricas. Pensando a respeito das formas de governo que os profissionais do serviço e a própria instituição desempenham em torno do usuário do serviço. Nessa categoria problematizou-se a respeito de dois tópicos, o governo de uma população a partir do uso da medicação em que se percebe uma intensa dependência e os movimentos de resistências e contracondutas como busca por outras formas de condução. Percebe-se então que foi possível constatar um posicionamento mais ativo por parte dos participantes da pesquisa. Dessa forma, visualiza-se uma potente relação entre medicalização e os movimentos de resistências e contracondutas, quando entendemos a medicalização como uma estratégia dentro da governamentalidade em que os movimentos surgem como as revoltas da conduta.
Palavras-chave: Enfermagem; Saúde Mental; Medicalização; Gestão Autônoma da Medicação; Michel Foucault.