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Esta tese se dedica ao problema da análise em uma pesquisa-intervenção participativa. No âmbito das metodologias de pesquisa, a análise é geralmente considerada idêntica à “análise de dados”. No caso de uma pesquisa-intervenção participativa, os pressupostos da “análise de dados” se transformam, o que leva a uma maneira diferente de colocar o problema. Para investigar essa questão, a tese explora o trabalho analítico realizado em uma pesquisa-intervenção participativa no seio do Projeto brasileiro da Gestão Autônoma da Medicação (GAM-BR), abordagem em saúde mental que busca transformar práticas ligadas ao uso e à prescrição de medicamentos comumente utilizados em psiquiatria. Trata-se de um Projeto participativo, que conta com a experiência de usuários dos serviços públicos de saúde mental, seus familiares e trabalhadores. A tese aborda especialmente a experiência da GAM em um grupo de familiares em um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) do interior do Estado do Rio de Janeiro - o GIF (Grupo de Intervenção com os Familiares). As bases metodológicas dessa pesquisa-intervenção foram a abordagem enativa, baseada no conceito de enação de Francisco Varela, e a abordagem cartográfica. Ao longo da tese, além dessas referências, há também uma importante interlocução com o trabalho de Vinciane Despret e suas observações sobre a articulação entre dispositivos de pesquisa e produção de realidades. O dispositivo da Clinique de Concertation também serve como fonte de inspiração e esclarecimentos para alguns aspectos do trabalho no GIF. No GIF, a análise não se apresentava como um momento ou etapa do processo de pesquisa-intervenção, nem conduzia ao estabelecimento de uma evidência única. Ela também não era uma tarefa reservada aos pesquisadores universitários. A análise era simultaneamente um modo de produzir conhecimento e um modo de cuidar. A tese aponta algumas pistas para o trabalho da análise examinando suas relações com as atividades de pesquisa, de intervenção e de participação. Tais pistas permitem caracterizar a análise como uma atitude que atravessa todo o processo de pesquisa-intervenção, promovendo a proliferação de sentidos, a articulação entre diferentes versões para os problemas e a inclusão da heterogeneidade.

PALAVRAS-CHAVE: análise; metodologia de pesquisa; pesquisa-intervenção; saúde mental; gestão autônoma da medicação.

2015_t_Leticia.pdf (uff.br)